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TODA COLHEITA

 



“Toda colheita” é um livro publicado em 2016 pelo editor Tarcísio Pereira e que só agora me chega às mãos. Presente este, recebido pelas mãos do poeta em visita recente em minha casa.

Este livro trata-se da reunião dos seis livros publicados pelo poeta Itárcio Ferreira e que nos dá a dimensão de sua obra. Dono de uma escrita fina, clara, concisa, mas carregada de mistérios que não foge do universo ditado pela poesia enquanto gênero. Desta forma se apresenta o poema que abre o livro, com o título de Didático: “Não escrevo poemas assim/displicentemente/como quem diz alô/a quem passa/ou como quem beija a boca/da amada de longas datas.”

Ler e interpretar poesia é além de tudo um ato de coragem, por se tratar de um gênero que nos desafia em cada verso que se apresenta aos nossos olhos. O desafio é grande para o leitor que tenta capturar a intenção do poeta, intenção esta escondida entre as figuras de linguagem, principalmente as metáforas.

Ah, essas metáforas! Fugidias e cheias de véus que encobrem suas faces, elas são as preferidas dos poetas e que através delas, tentam escapar da linguagem corriqueira, cotidiana dos noticiários, dos manuais, das bulas de remédios, dos relatórios empresarias.

Primeira dica é ler várias vezes o mesmo poema, até se ter em mente a essência dele – aquilo que, ou por onde os versos nos levam até encontrar o poeta na hora de sua invenção ou até onde sua invenção nos leva - sempre um caminho cheio de retas e curvas sinuosas ou não - assim o poema se torna ser o que ele é, ou aquilo que pretende ser. Um ser múltiplo que nos coloca a pensar ou à sua contemplação. Isto é poesia, mãe do poema, filho do poeta.

O importante na viagem da leitura de um poema é, muitas vezes,  extrair as emoções intrínsecas do poeta onde ele as impõe aos versos quando os coloca no papel. A dica aqui é tentar conectar-se emocionalmente com o texto e refletir sobre como ele ressoa com suas próprias experiências.

Deixe de lado como o verso foi construído, sua estrutura, que é composta pelos versos, estrofes e métrica, isto pode ser feito numa segunda fase, já que o poema pode ser livre, ou obedecer às regras das escolas literárias.

Isto posto, neste pequeno preâmbulo, vamos à leitura de dois poemas que, dentre tantos, escolhi para compor este texto:

 


ABRO-ME AO MUNDO

 

Abro-me ao mundo!

Venham sobre mim

todas as dores e desejos:

besta quem pensar que posso suportá-los,

não tenho os ombros de Drummond.

 

 

APOCALIPSE I

 

Quatro cavaleiros habitam meu coração:

Guerra

Peste

Fome

Morte

Não sei se o fim está próximo

ou se o auge da vida se anuncia

nestas auroras de ferro.

Mas, quando morrer o corpo,

que seja em sala com espelhos.

quero arder,

gozar o momento da vitória final do guerreiro.

Quando morrer o corpo,

que seja em roupas brancas,

limpas,

que a alma não sofra

com a sujeira ainda tão próxima.

Quando por fim apodrecer o corpo,

e todo o prazer da morte for gozado,

que seja queimado

para que não haja lembranças terríveis.

 
 
 

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Este comentário foi escrito pelo poeta José Luiz Mélo no ano de 2018, que havia perdido e que só agora consigo postar. Uma boa leitura....

 
 
 

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